sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Amar-te à morte
É meu leito de sorte
É meu desaguar
Fibroso e maluco

De marte ao norte
Estrelas em choque
Só pra mostrar
O sentido do susto

De ti, perder
De acabar o sentido delas
De ti, esquecer
E abandonar a missão
De manter a pulsação


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Palheta

Peguei a palheta com teia
Contei-a sobre a mesa velha
Vela assim toda o pano pra ceia
Seja assim a nossa passarela

Pra passar ela toda formosa
Famosa por olhares e brincos
Brincando de perder as horas
Ora, estou tão faminto

Faço e minto meu teatro
Te traio mais em seio que vinho
Vim em pé, fiquei sentado
Sem tá do lado, fiquei sozinho

Só rindo do que escrevi
Crendo que não tenho porta
Por tá entregue nesse mundo
Mudo de quem me apeguei

terça-feira, 24 de junho de 2014

Botas

Observando a menina passar
Foi que percebi ao lado meu
Uma cerveja boa pra beijar
E petisco quente pr'eu comer
Que não consegui ir embora
Do bar que abrira outrora
Que o dono era um amigo meu
E por ventura lá estava eu

Bom,

Por enquanto estou aqui há horas
Ninguém me pediu carona às notas
Depois de uma pelada suada
Nada melhor que rejuvenescer
Pra mandar longe aquela história
De que estava andando de botas
Aquele velho amigo meu
Que por escolha era eu

terça-feira, 3 de junho de 2014

Ciclo

Todo noite antes de dormir
Olho a velha constelação
Como uma simples oração
Pro dia amanhecer por um triz
Pra não me lembrar do giz
Que quer meu destino mudar
Não vai não

Como estou a medir
Já que todo hora é a última
Já que a natureza é bruta
Vou colher o corrido sonho
Da semente ser um dono
Pra meu destino eu mudar
Se pintar

Permissão pra conseguir
Completar o ciclo
Fazer uma cor a mais bonita de todas

quinta-feira, 27 de março de 2014

Roda

Tenho sol, mas nublo fácil
Sem causa de tardezinha
É que vou na varanda
Encho a minha pança e abro aquele vinho

Penso logo na diluição
Nos traços da ilusão
Apressando antigos pensamentos
Que vieram no caminho, perto do ninho

Roda, roda em nossas teias

Lembro de debates pelas ruas
Que hoje tão nuas
Sem forma obscena
Sentem vergonha do filho

Já com o copo vazio
Olho para o meio fio
E me vejo atordoado
Sem poesia, limitado

Roda, roda em nossas veias

O ponto no meu passado
Por ter escolhido pensar
Por ter criado palavras
Pra tudo que estranho disfarçar

Quando durmo incansável
De testar meu cardápio
Tenho que reinventar algo
Pra ter dinheiro pro vinho

Roda, roda em nossas ceias

sábado, 4 de janeiro de 2014

O Surdo

De todos os cheiros que tive
É certo que aquele mais violou
Por anotações no calado bolso
E falta de sermões de dominador

De todas as mentiras que disse
É errado que viole ao cantar
Por rir duma desgraça de vício
E presença de bailões de pensar

É que voltei a compor o surdo
Do meu vagamundo
Jeito de olhar

De nada adianta em tanto rio
E pouca isca da música
Por tempos em sons, palavras em tons
E toda essa ditadura

É que voltei a compor o surdo
Do meu vagamundo
Jeito de olhar