terça-feira, 23 de junho de 2020

Por onde voa o vento?
Quanto tempo ainda temos?
Viver é um momento sereno

Uma ilha vazia cercada de mar
Uma casa gigante com gente a gritar

Alma faz sombra ao penar
Poesia apunhala o pensar
Nunca resultará em sossego

Os versos insistem em voltar
Ponteiros parados a magoar

Decantam o olhar do sonhador
Pulsam do lar os motivos
Do som atacar nos nervos

Os ciscos da vida vão passar
O vício do ciclo é retornar

O sol da manhã insistirá
Mas luz demais é pra cegar
O entender dos riscos
A linha tênue da culpa ajuda
Quem não entende de judiar
O seu jeito suja sorte
Pra cegamente amenizar

Desculpa o sujeito
É só um jeito de desviar
Desejo, insano, controle
A cruz só pesa se carregar

Deus culpa
Ocupa a cuca
Deixa o eterno passar
Seja sujo, seja sério
Tem que passar
Seja certo, seja louco
Ha de passar
Por onde anda a culpa
Jaz o cais
De sertão humano
Que se vai
Esvaindo
Escorre sem perdão
Sem cair um cisco
Leva e traz
Poeira do ranço
Que decai
Decantando
Som de oração

Mas o tempo vai passar
Sem ser, servira
Que sustento tem o ar
Se o vento mudar
O mergulho maior se da antes do salto
Quando ainda de contato temos o penhasco
O pé ainda sente o peso no chão
Espaço confunde a previsão
Sera o vento gelado que ouço voar
Respiro cansado de elucidar
A mente desencoraja a emoção
O que faltava veio de sopro no coração
O ar agora é abrigo

É preciso voltar a respirar
Recompor em ruídos e nadar
Ha sempre um próximo pular
Há quanto tempo não nos vemos
Trago um fardo pesado
Daqueles que faltam sustento
Mas inspiram o jeito cansado
De quem prefere outro lado
Onde possa ancorar
Sem se sentir
A deriva

De novo me pego ao relento
Sereno de tanto passado
Rabisco ideias de vento
Releio meu relicário
De tudo que já foi retrato
Relembro o mar
Que olhos enxergam
Sem molhar