domingo, 22 de julho de 2018


O breve matará a língua
Com o tempo, a paciência
Trocarão vírgulas ao invés de beijos
Em salas de cinema

Não haverá esquinas
Nem passos, nem bicicleta
O sol não trará sequer um clima
Pra começar uma conversa

Só sorriremos dormindo
Sonhando com o dia
Em que fomos famintos

O abraço vai ser assédio
De braços fartos do mercado
Fruto de nenhum sacrifício
Seremos filhos sem passado

Na prisão estarão os livres
Aqueles com flores na pele
Com o tato ainda em arrepio
Gritarão: que a vida lhe seja leve!

Só sorriremos dormindo
Sonhando com o dia
Em que fomos famintos

sexta-feira, 27 de abril de 2018


Teu café esquenta coração
Água evapora, entra no pulmão
Tá sem açúcar, mas eu acho bom
Queima língua, mas adoro o tom
Outro dia, vi-te dormir
Ouvia acordes, mas dormias bem
Sonhava jazzzzz, como ninguém

Lá fora
Sonolentamente
O vento penteava árvore
Sol bronzeava avião
Desculpas da vida
Pra tanta mansidão

Conversamos sobre bebida e passados da noite
Que o amanhã existe pra lembrar da raridade de hoje
A química parece que foi planejada
Os olhares já trocados perdem o rumo de casa
No final dos contos, as contas serão pagas
Cada um joga seu interesses contra parede a fim de voltar
Uma ideia que atrase o relógio e adiante a maneira de se entregar
Nada está bem, tentarei o amor

O sol começa sua rotina e preenche o quarto com suas cores
Notamos que além das roupas, nós somos agora só dores
A física explica o que repele é a alma
Bagunça o caminho rumo à casa
Finge que conta, mas os contos são uma farsa
Por isso, veste-se o peito vazio frente o silêncio do caminhar
A vida causa tanto arrepio que tudo vira motivo pra pirar
Mas tudo bem, vou sem rancor
Foi em tarde de Abril
Que a porta fechou
Não tive como fugir
O tempo parou

Agora estou certo, cretino
Só tenho sol e sexo, dormindo
Estou sem dialeto, insisto
Dinheiro ou terror

O barraco por um fio
Deixei a conta fiado
Contei dias atrasados
Sobrou dedo, faltou favor

Ombros não casas, amigo
Aluguei minh'alma, domingo
Vendi minha estrada, mendigo
Virei contador

Penhorei os móveis que persegui
Visitei imóveis que deixei pra mim
Encontrei questão boa pra me iludir
As cópias das chaves de quando fui feliz
Recolho minhas ideias e teorias
Noto que nao sou criador, mas cria
Um pedaço de absurdo
Caminho dentro deste corpo
Cheio de carne, nervo, osso
Viadutos de meus surtos
Coberto de meias sinas
Sinal que nao sei da vida
Só sei que surjo
Tem um pouco da noite
Nos dias de hoje
Na sombra que deixou
Pra mim
O tempo me lança
Alcanço a lembrança
Daquela rua
Te vi partir

Mais uma vez
Reinventar
O proprio ser
Contornar
O braço da cama
Nao abraça ninguem
Só me fiz que vida (é) dura
Demais
O corpo tenta consolar
A solidao com loucura
Mas o sol manda minha paz
Procurar outra criatura

Tem um pouco da noite
Nos dias de hoje
Na sombra que deixou
Pra mim
O tempo me lança
Alcanço a lembrança
Daquela rua
Te vi partir
Achei conforto na negaçao
Passado é a presente explicação
Não quero pregar nada em ninguém
Não tenho parabola, não sei do além
Estou preso num corpo cheio de mim

Nao sei beber
Quem dira vencer
Sou os porquês arriscando a contramão

Perdi o prumo, rumo ao sertao
O tempo seco rachou do pé ao chao
Distancia é verso que morre no "porém"
Palavra que enforca e me deixa aquém
Estou preso num corpo cheio de mim

Nao sei beber
Quem dira vencer
Sou os porquês arriscando a contramão
Papel em branco
Arisco às notas do meu ser
Meus sinais
Pronto aos prantos
Sem a volta, volto a ser
Que sou capaz

Essas cifras nao pagam
O que tiram de mim
Dessas linhas sou escravo
Preso pelo fim

A luz é do preço da cruz
Que carrego
Porque quero
Descrever a escuridão
Olhos medios, cabelo solto
Ela veste o samba
Passa no vibrar das cordas
Sabe que é bamba
Rouba meu violao
No compasso ela manda
De amores a noite tambem cai
Seguro a pestana

Quero ve-la cansar
Suar as curvas na esquina
Dedilhando destinos ao chao
Como quem brinca de vida
Teu balançar continua s reger
A orquestra das vistas
E o transe que todos temos
Mas ninguem anuncia

Eu sei
Que esta só
Eu vi
Dentro é só nó
Amarras que sustentam teu vestido
São males do teu próprio caminho

Nesse verso composto d’água
Antiversão mais crua de mim
Entregue à sobriedade
Tempo seco, cruel, sal, idade
Preciso dum botequim
Molhar diminuto meu sertão
Perder a hora, olhar o não
Passar por cima daqui

O clima me tira fumaça
Das trocas dentro de mim
Sócio sem sociedade
Sozinho assim, sacio a saudade
Ah, com o anseio de cada sim
A vida cobra a dividida sobra
Que migalho com fome da história
De segurar o fim



Tentei pintar dias cinzas com esse blues
Achava minha rotina descolada demais
Ela tinha o zelo de confiar em exceções
O brinde aos ajustes depois dos sermões

Mas Deus sabia tudo e já não tinha esperança
Por isso, fui tornando sua imagem e semelhança
Perder é tão humano, quanto a vitória é divina
Eu queria dizer bem mais que a ponta da língua

Mas pro fundo fui
Não enxerguei o raso
Do que restou, sou o rastro